Publicado por: Geraldo Rocha Fernandes y Carlos Alberto Ferreira (Universidade de Lisboa/FMH - Portugal)
No volume 15, Nº 01 de 2012, da Revista Iberoamericana de Educación a Distancia (RIED), buscamos compreender como as instituições portuguesas, que produzem conteúdos e-Learning pensam os modelos teóricos de ensino e aprendizagem.
Por conseguinte, todo o paradigma da formação tradicional a que estamos habituados, está posto em causa, e a formação do tipo e-Learning e bem como o b-Learning tem ganhado força a cada momento (Driscoll, 2008).
Conceber conteúdos e-Learning pensando nas teorias de ensino e de aprendizagem não é tarefa fácil. O construtivismo é o termo mais citado quando se fala em aprendizagem (Legros et al., 2002, p. 29). Encontramos também uma literatura interessante para o desenho de conteúdos e-Learning numa perspectiva behaviorista, cognitivista e construtivista (Lowerison et al., 2008; Lima e Capitão, 2003; Lebrun, 2002), mas, relativamente às experiências de instituições, temos poucos relatos. Com base no que acabamos de referir, construímos a problemática deste trabalho que tem a seguinte questão orientadora: Quais as teorias e modelos de aprendizagem (explícitos e implícitos) que são pensados durante a elaboração de conteúdos e-Learning?
Assim, partindo desta questão definimos os seguintes objetivos específicos: verificar as principais características dos participantes e conhecer os principais elementos que evidenciam as teorias de aprendizagem presentes na elaboração de e-Conteúdos. Acreditamos que tais elementos identificados podem contribuir para compreender o que este setor pensa sobre aprendizagem e subsidiar as equipas de produção a melhorar o seu processo de trabalho.
Optamos por uma pesquisa qualitativa e realizamos a análise de conteúdo (Bardin, 1977) com construção de um sistema de categorias e subcategorias.
Os participantes da pesquisa foram instituições portuguesas (empresas ou universidades) que produzem conteúdos e-Learning (e-Conteúdos) e que possuem uma plataforma para armazenar a sua produção. A identificação da amostra foi feita através de buscas na Internet, livros, relatórios, artigos científicos, listas de e-mails, revistas especializadas e consultas a especialistas que trabalham com a produção de conteúdos e-Learning em Portugal. Desta pesquisa, resultou uma lista inicial de 18 instituições, que após confirmação, passou para 13 e onde somente oito aceitaram participar da pesquisa.
Para este estudo foram realizadas 09 entrevistas semi-estruturadas com os gestores e coordenadores de equipas em 08 instituições. Também utilizamos de fontes documentais fornecidas pelas instituições e encontradas na Internet para fazer a caracterização dos participantes. As instituições participantes foram denominadas por Organização 01, 02, etc. A maioria delas são pequenas e médias empresas (PME) e possuem poucos funcionários.
A segunda categoria refere-se às “Teorias ou modelos de aprendizagem utilizados para a elaboração de e-Conteúdos” em que buscou evidenciar as principais correntes pedagógicas que as instituições utilizam para elaborarem os seus conteúdos. Já definida a categoria, construímos – a partir das falas dos participantes – um sistema de subcategorias que está dividido em três grupos por frequência de citação, estando as subcategorias mais citadas no grupo 01, mas não deixamos de dar atenção às subcategorias do grupo 02 e 03. Assim, quando indagamos às instituições quais teorias ou modelos de aprendizagem são pensados para produzirem conteúdos e-Learning, encontramos as respostas organizadas em subcategorias na Tabela 01.
Tabela 01: Subcategorias da categoria “elementos que evidenciam a aprendizagem”.
Grupo
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Subcategorias
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Caracterização de acordo com os discursos dos entrevistados
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Grupo 01
(38% das instituições)
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Construtivismo
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Refere-se a uma teoria de aprendizagem.
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Design Instructional
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Relacionado com a maneira de desenhar conteúdos (desenho da instrução), organização e planeamento de sequências de aprendizagem.
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Estilos de Aprendizagem
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Preocupações em identificar os estilos de aprendizagem do formando.
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Abordagem pedagógica
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Refere-se à maneira de abordar um conteúdo: utilização de metáforas, role-plays, estudo de casos, simulações.
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Tutor/tutoria
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Refere-se às atividades do tutor como e-professor, tutor inteligente, tutor virtual, além da utilização de feedbacks e conversação didática guiada.
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Grupo 02
(25% das instituições)
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Objetivos de aprendizagem
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Refere-se à valorização e definição dos objetivos ao longo do curso e-Learning.
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Autoaprendizagem
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Concepção relacionada com o e-Learning tradicional.
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Aprendizagem colaborativa
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Refere-se ao trabalho em equipas, normalmente com uma perspectiva construtivista.
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Depende do cliente
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Situação de condição para a escolha de um modelo de aprendizagem.
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Dificuldade em responder
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Característica da resposta, pois nem sempre está claro para a instituição qual teoria ou modelo de aprendizagem é utilizado para a elaboração dos seus e-Conteúdos.
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Grupo 03
(13% das instituições)
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Aprendizagem informal
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Refere-se à formação interna dos funcionários e o tipo de formação utilizada pelo aprendiz.
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A Tabela 01 mostra que as respostas, organizadas em subcategorias, são confusas, indicam que não está claro “o modelo” ou “a teoria” de aprendizagem e ensino dominante. Verifica-se que os “elementos pedagógicos” que foram mais citados pertencem ao grupo 01, porém os elementos do grupo 02 e 03 articulam-se entre si e entre os elementos do grupo 01. As instituições forneceram diversas respostas que não foram possíveis de encaixar em nenhuma corrente de aprendizagem (salvo a subcategoria “construtivismo”), mas podemos analisá-las sobre os pontos de vistas: behaviorista, cognitivista, construtivista e cognição situada (De Vries, 2001).
Inicialmente verificamos que existem algumas dificuldades em três aspetos: diferenciar teoria de ensino de teoria de aprendizagem; centralizar as “estratégias de aprendizagem”; construir conteúdos realmente construtivistas e não conteúdos “hipotéticos” construtivistas.
Se por um lado, não encontramos as respostas que esperávamos, por outro verificamos que existem um conjunto de indicadores que demonstram que é necessário repensar (ou ampliar) o conceito de aprendizagem no setor de produção de conteúdos e-Learning.
Muitas instituições disseram que adotam a teoria construtivista, e que utilizam uma “plataforma construtivista”, porém isso não nos garante que o ensino esteja orientado para uma aprendizagem construtivista, pois muitas vezes caracteriza-se por um ensino behaviorista em que o tutor/e-professor “transfere” o conhecimento para os estudantes baseado em lições cujo conteúdo está organizado numa sequência bem definida de módulos de aprendizagem, que o estudante recebe num tamanho e numa ordem predeterminados.
Assim, podemos dizer que este setor merece uma profunda atenção quando se pensa em caracterizar uma corrente de aprendizagem num conteúdo e-Learning. Por outro lado, já esperávamos certa confusão, quando vivemos um período onde existe uma mudança de paradigma de ensino coincidente com o avanço exponencial das TIC.
A ideia da teoria do Design Instructional (Reigeluth, 1999) e Estilos de Aprendizagem (Gallego e Alonso, 2009) destacaram-se no discurso dos participantes. A relação entre essas duas subcategorias é possível, mas para isso é necessário e urgente ampliar as competências dos profissionais em conteúdos e-Learning de modo a levar em consideração o Design Instructional dos conteúdos juntamente com os estilos do aprendente.
Por outro lado, mesmo que o Design Instructional e os Estilos de Aprendizagem tenham um destaque neste setor, também verificamos que há uma abertura para o papel do tutor/e-professor, a aprendizagem colaborativa e a necessidade da formação informal entre os funcionários.
Verificamos que esta abertura sobre o que se pensa da aprendizagem para produzir conteúdos e-Learning demonstra-nos a necessidade de novas perspectivas de pesquisa neste setor: no domínio da aprendizagem informal, no domínio da aprendizagem colaborativa, no domínio do que se entende por conteúdos construtivistas, Design Instructional e Estilos de Aprendizagem. É evidente que estes apontamentos necessitam uma implicação de todos os atores do setor de produção de conteúdos e-Learning.
Inicialmente verificamos que existem algumas dificuldades em três aspetos: diferenciar teoria de ensino de teoria de aprendizagem; centralizar as “estratégias de aprendizagem”; construir conteúdos realmente construtivistas e não conteúdos “hipotéticos” construtivistas.
Se por um lado, não encontramos as respostas que esperávamos, por outro verificamos que existem um conjunto de indicadores que demonstram que é necessário repensar (ou ampliar) o conceito de aprendizagem no setor de produção de conteúdos e-Learning.
Muitas instituições disseram que adotam a teoria construtivista, e que utilizam uma “plataforma construtivista”, porém isso não nos garante que o ensino esteja orientado para uma aprendizagem construtivista, pois muitas vezes caracteriza-se por um ensino behaviorista em que o tutor/e-professor “transfere” o conhecimento para os estudantes baseado em lições cujo conteúdo está organizado numa sequência bem definida de módulos de aprendizagem, que o estudante recebe num tamanho e numa ordem predeterminados.
Assim, podemos dizer que este setor merece uma profunda atenção quando se pensa em caracterizar uma corrente de aprendizagem num conteúdo e-Learning. Por outro lado, já esperávamos certa confusão, quando vivemos um período onde existe uma mudança de paradigma de ensino coincidente com o avanço exponencial das TIC.
A ideia da teoria do Design Instructional (Reigeluth, 1999) e Estilos de Aprendizagem (Gallego e Alonso, 2009) destacaram-se no discurso dos participantes. A relação entre essas duas subcategorias é possível, mas para isso é necessário e urgente ampliar as competências dos profissionais em conteúdos e-Learning de modo a levar em consideração o Design Instructional dos conteúdos juntamente com os estilos do aprendente.
Por outro lado, mesmo que o Design Instructional e os Estilos de Aprendizagem tenham um destaque neste setor, também verificamos que há uma abertura para o papel do tutor/e-professor, a aprendizagem colaborativa e a necessidade da formação informal entre os funcionários.
Verificamos que esta abertura sobre o que se pensa da aprendizagem para produzir conteúdos e-Learning demonstra-nos a necessidade de novas perspectivas de pesquisa neste setor: no domínio da aprendizagem informal, no domínio da aprendizagem colaborativa, no domínio do que se entende por conteúdos construtivistas, Design Instructional e Estilos de Aprendizagem. É evidente que estes apontamentos necessitam uma implicação de todos os atores do setor de produção de conteúdos e-Learning.
BIBLIOGRAFIA
Bardin, L. (1977). L'analyse de contenu (1ª ed., p. 233). Paris: Presses universitaire de France.
Baudrit, A. (2007). L'apprentissage collaboratif: plus qu'une méthode collective? (1ª., p. 160). Bruxelles: De Boeck Université.
De Vries, E. (2001). Les logiciels d'apprentissage: panoplie ou éventail? Revue Française de pédagogie, 137(1), 105–116. Institut national de recherche pédagogique. Consultado a 10 de Fevereiro de 2010 em http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/rfp_0556-7807_2001_num_137_1_2851.
Driscoll, M. (2008). Why e-Learning hasn’t lived up to its initial projections for penetrating the corporate environment. In S. Carliner & P. Shank, The e-Learning Handbook (1ª ed., pp. 29-76). San Francisco: Pfeiffer.
Gallego, D. J., & Alonso, C. M. (2009). Estilos de aprendizaje. Documento interno, não publicado. Madrid.
Lebrun, M. (2002). Courants pédagogiques et technologies de l’éducation. Louvain-la-Neuve: Institut de pédagogie universitaire et des multimédias. Consultado a 10 de Fevereiro de 2010 em http://www.european-mediaculture.org/fileadmin/bibliothek/francais/lebrun_courants/lebrun_courants.pdf
Legros, D., Pembroke, E. M., & Talbi, A. (2002). Les théories de l'apprentissage et les systèmes multimédias. In D. Legros & J. Crinon, Psychologie des apprentissages et multimédia (1ª ed., pp. 23-39). Paris: Armand Colin.
Lima, J. R., & Capitão, Z. (2003). e-Learning e e-Conteúdos: aplicações das teorias tradicionais e modernas de ensino e aprendizagem à organização e estruturação de e-cursos (1ª., p. 287). Lisboa, Portugal: Centro Atlântico, Ltda.
Lowerison, G., Côté, R., Abrami, P. C., & Lavoie, M. (2008). Revisiting Learning Theory for e-Learning. In S. Carliner & P. Shank, The e-Learning Handbook (1ª ed., pp. 423-458). San Francisco: Pfeiffer.
Reigeluth, C. M. (1999). Instructional-design theories and models: a new paradigm of instructional theory (1ª ed., p. 715). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
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Reigeluth, C. M. (1999). Instructional-design theories and models: a new paradigm of instructional theory (1ª ed., p. 715). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
Artículo completo: Rocha Fernandes, G.; Ferreira, C. A. (2012). Desenho de conteúdos elearning: quais teorias de aprendizagem podemos encontrar? RIED. Revista Iberoamericana de Educación a Distancia, volumen 15, nº 1. [en línea] Disponible en: http://ried.utpl.edu.ec/?q=es/node/127
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